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"A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar." Martín Luther King


Seja a mudança que você deseja ver no mundo.

Mahatma Gandhi




Música

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Odécio Mendes Rocha

EL ORIGEN Y EL FIN DEL DINERO *

Costumo dizer que a origem do dinheiro está na Mais-Valia. Isto Karl Marx o disse há mais de um século no O Capital.
Começa com o trabalho; depois, é expropriado o trabalho excedente (a Mais-Valia);na terceira etapa, a acumulação da riqueza é transformada em “commodites” e o dinheiro fica como uma mercadoria independente. ALUGA-SE DINHEIRO !!! E eis a pistolagem dos bancos que alugam seu dinheiro (empréstimo), para que o dinheiro possa parir mais dinheiro. Este dinheiro, pela evolução, transformou-se em outro tipo de propriedade – o mercado financeiro internacional. Este mercado vira um dinheiro independente das relações patrões e empregados. No final do século XX para o começo deste século XXI, o mercado financeiro tornou-se o senhor do mundo. É quem manda e desmanda nos Estados-Nação. Está para além do bem e do mal, ou seja, da moral. Por quê? Porque o mundo da economia real morreu. Não podendo mais aplicar o dinheiro na produção, tornou-se obrigatório investir dinheiro no mercado financeiro mundial, como a única via de acesso, para salvar as empresas da falência, das quebradeiras etc. O mercado financeiro mundial emancipou o dinheiro dos trabalhadores. Este dinheiro não corresponde ao econômico, aos ativos fixos e nem tem mais nada a ver com a economia real ou concreta.
A revolução eletrônica informatizada, a partir de 1940 com a Cibernética de Norbert Wiener e seu extensivo mundo informatizado ( a revolução dos CHIPS), mudou o panorama da antiga civilização milenar – a Civilização do trabalho.
Esta micro-eletrônica deixou quase a zero o espaço-tempo; eliminou a zero a Mais-Valia; deixou a produção zero valor; o trabalho quase zero; o mercado não terá mais nenhum valor social; o capital tornou-se fictício sem mais correspondência na economia concreta e real. O trabalho estrutural aumentará a cada dia, sem volta, em progressão geométrica; o dinheiro fictício do mercado financeiro a cada dia desvalorizar-se-á gradativamente, sem mais obedecer o econômico, o político etc.
Acabou o dinheiro da produção. Mas ela continua firme. Continua firme apenas como excrescência social (Baudrillard), atrelada ao Mercado Financeiro Mundial. Este mercado é o novo território do dinheiro fictício. Este dinheiro ainda continua atrelado à produção. A produção sem Mais-Valia como está atualmente, em breve deixará de ser o referencial deste dinheiro desterritorializado. Com a produção zero valor, o mercado financeiro internacional, de explosão e explosão de bolhas, o sistema sócio-metabólico do capitalismo não resistirá e morrerá de apoptose. Fim do capitalismo.

*A Origem e o fim do Dinheiro

Blog: mendesrochalenitivo.blogspot.com

domingo, 20 de dezembro de 2009

O fracasso de Copenhague e a "Cara de Pau" do Brasil

O fracasso de Copenhague

A política do imperialismo apresentada em Copenhague é um retrocesso. Significa, entre outras coisas, o fim do tímido Protocolo de Kyoto, acordo que fracassou porque o governo norte-americano se recusou a assiná-lo. Se a crise econômica de 2008 mostrou que o capitalismo condena a humanidade à catástrofe, Copenhague escancara a impossibilidade deste sistema evitar o colapso ambiental. O máximo que a conferência poderá produzir é um acordo de intenções e algumas grandes oportunidades de negócios através da criação de um novo derivativo, baseado na compra e venda do direito de poluir. Os chamados créditos de carbono movimentam hoje 120 bilhões de dólares e estão se tornando numa oportunidade para especuladores ganharem muito dinheiro enquanto o planeta agoniza. Copenhague fracassou, porque é da natureza do capital priorizar lucro e não a humanidade.

O Brasil cara de pau

Mais uma vez, o governo apresenta um Brasil para inglês ver. Enquanto tentava ser uma suposta “vanguarda” do combate à mudança climática em Copenhague (representado pela ministra Dilma Rusself - não sei porque, já que o ministr do Meio Ambeinte é o Carlos Minc e o Presidente da República é Lula da Silva, aqui no Brasil faz a festa dos inimigos do meio ambiente e devastadores da Amazônia.
Na semana passada, o governo Lula prorrogou a entrada em vigor do decreto 6514, que regulamentava, após 44 anos, as punições previstas para crimes ambientais pelo Código Florestal Brasileiro. Como se não bastasse o adiamento, o presidente ainda concedeu uma anistia para todos os fazendeiros que desmataram ilegalmente até hoje. Para ser anistiado, basta o fazendeiro dizer onde deveria estar sua reserva legal, reconhecer que desmatou além da conta e prometer que vai recuperá-la num prazo de 30 anos. Assim, desaparecem as multas relacionadas a crimes ambientais. Calcula-se que a anistia significará a renuncia de R$ 10 bilhões que deixarão de ir para os cofres públicos. “Quem desmatou leva o perdão à vista, enquanto pode pagar o que deve ao país a prazo”, afirma um comunicado do Greenpeace sobre a medida.
Como se não bastasse, nessa semana o deputado Marcos Montes (DEM-MG), membro da bancada da motosserra na Câmara, tentará colocar em votação na Comissão de Meio Ambiente o projeto de lei 6424, chamado de Floresta Zero. O projeto, que conta com o apoio nada velado do Ministério da Agricultura, flexibiliza o código florestal e contribui para aumentar o desmatamento no país.


Parte do texto extraído da Home Page do PSTU Nacional.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

moradores de rua casam na igreja Pequeno Grande

Uma boa noitícía. O padre Lino, da pastoral do Povo da Rua, celebrou na tarde de quarta-feira, o casamento de moradores de rua, na igreja Pequeno Grande que uma das mais "chique" de Fortaleza.
http://opovo.uol.com.br/opovo/fortaleza/937812.html(edição de quinta-feira,17/12/20090
http://www.opovo.uol.com.br/opovo/fortaleza/937812.html



Casamento

Moradores de rua celebram o amor
Moradores de rua, Lindinalva e Seu Pedro se casaram ontem, na igreja do Pequeno Grande, uma das mais concorridas de Fortaleza. Diante do altar, o casal disse sim ao amor e à vida nova. São um exemplo de que todos têm o direito de sonhar

Lucinthya Gomes
lucinthya@opovo.com.br
17 Dez 2009 - 00h21min


Ela entrou na igreja radiante, de vestido branco e grinalda. ``Meu coração está cheio de emoção, pulando de alegria``, sorria Lindinalva Loureiro, 32, que mora nas ruas de Fortaleza há cerca de seis anos. Diante do altar, Pedro da Silva, 47, esperava emocionado o momento de aceitar para sempre a mulher que mudou sua vida. Ele vive na rua desde os 12 anos e na rua conheceu a noiva. Para ele, a mais linda. Ontem à tarde, na Igreja do Pequeno Grande, disseram sim ao matrimônio e a uma vida nova.

Desde que se encontraram, a vida de Pedro e Lindinalva nunca mais foi a mesma. ``Eu conheci ele lá na Praça do Ferreira. Eu estava na rua, perdida. Aí ele me achou e levou no CAPR (Centro de Atendimento à População de Rua). Ele me ajudou, foi muito atencioso. Nesse momento, me apaixonei``, lembra a noiva. Começaram a namorar há um ano e três meses. Seu Pedro sofria com a dependência química. ``Depois que ela apareceu na minha vida, eu consegui deixar (as drogas). Ela tem problema (neurológico) e precisa tomar remédio. Agora está boa e vamos continuar assim. É eu cuidando dela. E ela cuidando de mim``, afirmou o noivo.

Diante de uma igreja repleta de amigos, conhecidos nas ruas e nas entidades de apoio, Lindinalva recebeu primeiro o batismo. Já durante o casamento, Seu Pedro, emocionado, tentava carinhosamente segurar a mão da noiva. Os dois fitavam as imagens de Nossa Senhora e de Jesus. ``Estava pedindo coisas boas, coisas do coração``, entregou ela.

De vez em quando se olhavam apaixonados, como se não acreditassem no que viviam. ``O meu sonho era casar numa igreja linda como essa e não tinha condições. Mas o povo da rua se uniu e eu tenho mais é que preservar essas pessoas na minha vida``, disse Seu Pedro.

O padre Lino Allegri, da Pastoral da Rua, celebrou a cerimônia e relatou a passagem bíblica que fala sobre quando Deus fez o homem e a mulher, para caminharem lado a lado. ``Faltava ao homem alguém que desse sentido à sua vida. Deus fez a mulher para que os dois caminhassem juntos, um ajudando o outro. E assim aconteceu com Pedro, que conheceu Lindinalva e mudou de vida``, comemorou.

Hoje, Seu Pedro e Lindinalva trabalham como catadores de lixo, de onde tiram o sustento e já conseguem pagar o aluguel do quarto onde vão morar, no Centro. Agora, o sonho é ter a casa própria. ``A história deles mostra para outros moradores de rua que isso pode acontecer com qualquer um``, disse o amigo do casal, Isaías de Sousa, 42. Eles são o exemplo de que não há limite para sonhar.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A fábula dos Morcegos

Tenho usado a literatura para divulgar a construção de uma sociedade anticapitalista. Talvez, Por conta disso, algumas pessoas julguem os poemas que faço depressivos, ou numa consideração mais contundente, poemas com versos fracos, sem cunho literário, e por isso não devem sequer figurar no gênero cujo ato de poemar constitui o mais convidativo. Para estas pessoas que apesar de tudo são meus leitores, dedico sem nenhum tipo de ressentimento, os seguintes versos que eu teimosamente insisto em chamar de poesia.

Ternura sempre,

Razek Seravhat.




I
No cume de uma caverna
habitam dois tipos de morcegos
Os Morcegos por assim dizer
e aqueles
Que se autodenominam
Morcegos Sábios.



II
Todo dia, os Morcegos
Que se dizem Sábios
agradecem maravilhados
pela vida que levam
apesar do ambiente hostil
e dos riscos de
super-desabamento
a que estão submetidos


III
todo este marasmo
e conformação
se justifica, pois,
segundo eles,
Só o fato de estarem vivos
É motivo pra “ser feliz.”


IV
Por isso ficam adormecidos,
orando morcegosamente,
Cientes de que o único poder salvador,
É o do seu Sábio Mestre,
no mais, são mamíferos
e ainda por cima voadores,
e creem que ao saírem da caverna
Enfim poderão desfrutar do que eles
Acreditam ser o cálido
horizonte dos morcegos.


V
Assim,
A vida vai esvaindo-se,
A caverna diluindo-se,
mas a pungente certeza
Dos Sábios Morcegos,
Permanece inabalável.
Apesar das privações,
agruras e
solidão impostas,
a eles e a seus semelhantes,
as suas convicções e
tradições de milênios
continuam Intactas.


VI
Para esses Morcegos,
a infinita sabedoria
consiste
no propósito de que
todos na caverna devem
Conhecer e reconhecer
Com devotada inteligência
a sapiência
do Morcego- Mestre.
Basta isso,
e tudo se converterá
em escuro pleno e
salvação instantânea.

VII
Pois,
segundo o pensar sagrado,
O Supremo-Mestre possui
a dádiva e a graça
da autoridade absoluta.
Aptidão que advém
Lá dos primórdios,
Quando a caverna
Era uma simples gruta.


VIII
Por vezes,
os Sábios Morcegos
não concebem
que a visão dos Morcegos,
propriamente ditos,
Funcione melhor ou igual
do que as deles.
E portanto, os consideram
incultos

IX
Por outro lado,
Os Morcegos que
São considerados incultos
não se abalam com o desprezo
dos seus colegas
E por meio dos sons
que emitem,
seguem transpondo os obstáculos
com habilidade e destreza,
Mesmo sem enxergá-los.

X
Fato que não ocorre
Com os Morcegos Sábios,
pois, preferem ficar
Pateticamente absortos,
Louvando e contemplando
A conturbada caverna,
impedidos de mirar a realidade,
E o que é pior, julgando-se
Os inteligentes e fiéis Morcegadores
da verdadeira ação
Do poderoso Morcego-Mestre.

XI
Nisso enclausuram-se numa razão
De gritos, marchas e zunidos
Que exaltam apenas a ciência
do Divino Morcego Cordato,
E esquecem que a vida
Deve está a serviço de
Uma cotidiana prática coletiva.

XII

Em contrapartida,
Enquanto os sábios
Ocupam-se em propagar
e demonstrar a misericórdia
do seu Morcego Divino.
Na caverna e ao redor dela,
Só o que próspera
É a dor da vingança,
O falecer da amizade,
E a matança de morceguinhos,
Horrores que são explicados
Com frases do tipo:
“ O Divino Morcego sabe o que faz”


XIII
Ao passo que os incultos,
Na sua ínfima condição
De morcegos,
com os seus grunhidos,
ruídos e voos rasantes
Não se contêm
nem se acomodam,
Um instante sequer,
e, prosseguem,
Resistindo,
Enfrentando a luminosidade
e as adversidades
com denodo e altivez.

XIV

Certo dia,
um desses mamíferos voadores
Calculou mal a distância que
O separava de uma barreira
e se despedaçou
Num enorme concreto de tiranias.
Acontecimento que até certo ponto
foi indiferente para os Morcegos Sábios.
Uma vez que aquele Morcego,
Coitado, não professava Saber algum.


XV
E dessa forma não pertencia
ao Reino dos Morcegos Sábios, e,
Portanto, sua vida
já estava condenada
a ser consumida
no eterno
fogo da ignorância.


XVI
Neste dia,
no entanto,
antes do distraído morcego
ver o seu patágio
Derreter-se em sangue,
obteve um ínfimo consolo,
pois,
Sentiu a sensação de surpresa
Na expressão de um dos
Morcegos Sábios.

XVII
Que notou
uma imensa muralha
de tristeza e cal
na qual todas os dias
os Morcegos incultos
Transpassavam-na,
Cuja existência
os Sábios Morcegos
sequer desconfiavam
que pudesse ser
tão imponente.

XVIII
Em virtude desse episódio,
Os Morcegos
Perceberam que além da escuridade
Existe também a diversidade,
E o essencial é viver em comunhão.
Desse dia em diante
começaram a festejar,
Todos os anos
Sempre no mesmo local
O valor da unidade.

XIX

E com o apoio do Morcego
que presenciou todo
O episódio,
E que doravante
ficou conhecido
Como o Morcego das visões
Começaram uma festividade
Para homenagear
o Distraído Morcego,
E finalmente,
Celebrar a fusão e a partilha
entre todos
os seres daquela caverna


XX
Entretanto,
um experiente Morcego
salientou, em nome do
Morcego-Mestre,
Que aquelas peripécias
tão cheias de satisfação,
e cambalhotas,
Poderiam trazer
mais benesses,
folículos e umidade

XXI
Com isso os investimentos
Para realizar as peripécias
aumentaram
E logo,
Os Morcegos-Sábios
Começaram a chamar
Aquela ocasião
De Voar feliz
E a medida,
que o Voar
crescia em dimensão
diminuía em sentido,
Pois a cada ano,
a comunhão era mascarada
E a unidade esquecida,

XXII
Melhor dizendo,
ambas eram substituídas
Por um novo vôo estiloso
ou por um capricho frugívoro,
ou mesmo por desejos fúteis,
o que alterava completamente
o significado daquele
congraçamento.

XXIII
Aos poucos o Feliz Voar
foi se modificando
de tal forma,
que inventaram até
uma árvore enfeitada
de bolinhas escuras
e alguns Morcegos pensam
que ter um Feliz Voar
é pôr ao pé da árvore
uma capa nova para a asa
Ou mesmo encher sua gruta
de pequeninas luzes escuras,
ou ainda capturar
uma rã fresquinha
para a ceia carvenina

XXIV
Assim, o Voar que era
pra ser um gesto
de união e confraternização
transformou-se
numa farsa repleta
de gananciosos morcegos,
e o que antes fora
organizado para lembrar
a fraternidade entre
os seres daquela caverna ,



XXV
Hoje não passa
da banalização oportunista
de um advento que
é regado pela insensatez
de muitos
e pela cretinice de alguns


XXVI

Que inclusive,
Falam em nome
daquele distraído morcego
na busca insana
de morcercializar os frutíferos
cartões de Voar Feliz,


XXVII
Outros, aproveitando a falsa
atmosfera de passividade,
inventam campanhas
em nome dos morcegos carentes
tudo forjado, com a desculpa
da caridade no afã licencioso
de sugar mais e mais,
num período que deveria ser
de partilha realizada
e não de morcegunal canalhada.


XXVIII


Tudo feito com o consentimento,
Do caritativo Mestre,
Chamado por todos
Pasmem!
De “O Morcecioso”

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Uma ética ambiental para o futuro


Por Jostein Gaarder - Escritor, autor de "O mundo de Sofia"

Cinqüenta e um anos depois da assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o mundo necessita de uma nova declaração universal, desta vez de obrigações humanas, tanto dos indivíduos quanto dos estados, a fim de deter a progressiva deterioração do ambiente de nosso Planeta. Há no mundo milhares de organizações que atualmente se ocupam dos direitos das pessoas, mas somente um punhado está se preocupando com o estabelecimento de obrigações humanas.

O primeiro resultado real nesta área, a Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, pode até mesmo ter sido insuficiente, mas deu uma idéia do quanto falta para ser feito em matéria de obrigações supranacionais relacionadas à salvaguarda do ambiente e dos recursos mundiais, e com a necessidade de dar uma base sustentável à vida humana e animal.

Até agora a regra de ouro de “não faça aos outros, o que não gostaria que fizessem a você” serviu como base para todas as éticas. Devemos transportar esta regra para as relações entre países ricos e pobres, e entre gerações.

Teríamos gostado se as pessoas que viveram neste Planeta há cem, mil ou cem mil anos tivessem depositado enormes quantidades de lixo nuclear no fundo do oceano ou em buracos, levando à extinção numerosas espécies de plantas e animais, ou queimado tanto carvão e petróleo como nós fazemos? Sendo assim, fica claro que não temos o direito de fazer o mesmo.

Como já foi corretamente observado, o Planeta Terra não é de nossa propriedade e nem o herdamos de nossos ancestrais. Na realidade, o estamos pedindo emprestado de nossos descendentes. Mas estamos deixando atrás nós um mundo que vale menos do que aquele que pedimos emprestado.

A nossa é a primeira geração que está afetando o clima terrestre e a última geração que não terá que pagar o preço por ter feito tal coisa. Tendo em vista o que está ocorrendo em nosso Planeta, nos atreveríamos a nascer na metade do próximo século?

Sabemos que estamos em uma rota de colisão com a natureza e de que modo devemos mudar nosso comportamento para evitar o desastre. Nosso sistema econômico está colocando em perigo a capacidade do Planeta de renovar-se a si mesmo. Muitas decisões estão sendo tomadas por pequenos grupos com a intenção de obter lucros em curto prazo sem levar em conta o que seria uma justa divisão dos recursos mundiais.

Se a cultura ocidental tivesse êxito em exportar sua ideologia consumista para a África, Índia, China e Sudeste Asiático, por exemplo, a catástrofe global seria inevitável. Certamente, a catástrofe já é uma realidade em muitos lugares.

As perguntas candentes a se fazer neste início de Século 21 são as seguintes:

Que mudança de consciência está faltando? Quais são as qualidades de vida mais importantes? Quais são os valores sustentáveis? O que é uma boa vida?

A questão já não é mais se necessitamos de uma nova ética global, mas sim como obter uma “ética para o futuro” e como ela pode ser assimilada de modo a levar a uma nova direção política. Hoje em dia muitas pessoas têm um bom conhecimento dos desafios que este mundo está enfrentando. Muitos, inclusive, talvez tenham o que se poderia chamar de uma consciência global, ou uma consciência ecológica. Os políticos também estão se dando conta do que está ocorrendo e de uma maneira muito melhor do que demonstram na prática.

Este é o paradoxo: sabemos que o tempo está se esgotando para nós, mas não agimos para mudar completamente as coisas antes que seja demasiado tarde. Estamos enfrentando o colapso do ambiente planetário. Mas onde está a vontade política? Que políticos se atreveriam a pedir um pequeno sacrifício a fim de adotar um novo e necessário curso para salvar o futuro de nossas crianças, da civilização e da dignidade humana?

Devemos lutar pela proteção do ambiente e por uma divisão mais eqüitativa dos recursos do planeta.

Diz-se que uma rã posta na água fervente saltará rapidamente para fora, mas se a água for aquecida gradualmente, ela não se dará conta do aumento da temperatura e tranqüilamente se deixará ferver até morrer. Que coisa semelhante possa estar ocorrendo à nossa geração com respeito à gradual destruição do ambiente é ainda algo a ser demonstrado ou desmentido. Uma coisa é certa: ninguém pode nos salvar a não ser nós mesmos.

O futuro não é algo que simplesmente acontece por si mesmo. Estamos criando o amanhã neste mesmo momento. Hoje em dia muitas pessoas sentem-se como meros espectadores dos fatos globais. Mas devemos aprender que todos nós somos atores e que estamos modelando nosso futuro agora mesmo.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Guardas florestais

Artigo no Jornal, O Povo, caderno Opinião.

http://opovo.uol.com.br/opovo/opiniao/936166.html

Guardas florestais
Gilvan Rocha
11 Dez 2009 - 01h41min

A função de guardas florestais é louvável e necessária. Mas seria uma infantilidade imaginar que preservaríamos nossas florestas contratando mais guardas florestais, sobretudo, porque eles têm comportamento e visão localizada da questão do meio ambiente. Aliás, os ambientalistas, no que pese o nosso respeito pela boa vontade que possam ter ou a nossa repulsa por utilizarem-se desse expediente como meio de vida, estão impossibilitados de salvar o mundo. Essa tarefa só poderá ser obra da sociedade.

Reduzir o ambientalismo em especialidade de doutos é reduzir a questão ao inatingível, pois a preservação real do meio ambiente só poderá ser obra social, portanto, uma obra intrinsecamente política.

A ex-ministra Marina da Silva desponta como candidata a presidente da República em coligação com o Psol. Sem dúvidas, como já dissemos , Marina merece o respeito e a admiração de todos nós na medida em que se levantou valentemente contra os senhores do agronegócio que ,de forma abusiva, usam as suas motosserras para produção de pastos e plantios de soja, devastando em escala geométrica as nossas matas.

Observe-se que por trás de cada motosserra existe um trabalhador necessitando desesperadamente daquele emprego. Trabalhadores e agropredadores que promovem a devastação da natureza o fazem em nome do lucro para os patrões. Lutar em favor da preservação ambiental é lutar, antes de tudo, contra o capitalismo de forma explícita. Do contrário, seja de boa fé ou não, estaremos escamoteando a questão.

Aliás, a burguesia tem apresentado projetos e tomado medidas em torno do problema sem ultrapassar, porém, os limites do capitalismo, ou seja, pretende encontrar soluções preservando o sistema. E a esquerda desavisada termina fazendo o jogo da burguesia com o seu discurso mutilado a respeito do assunto. Hoje, fala-se com muita simpatia no nome da ex-ministra Marina da Silva como candidata à presidência da República numa coligação PV e Psol. Ora, presume-se que o Psol seja um partido de natureza anticapitalista e nunca um partido ambientalista dotado de desinformação e romantismo.

Gilvan Rocha - Presidente do Caep- Centro de Atividades e Estudos Políticos

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Bertolt Brecht

Elogio do Aprendizado

Aprenda o mais simples!
Para aqueles cuja hora chegou
Nunca é tarde demais!
Aprenda o ABC; não basta, mas aprenda!
Não desanime! Comece! É preciso saber tudo!
Você tem que assumir o comando!
Aprenda, homem no asilo!
Aprenda, homem na prisão!
Aprenda, mulher na cozinha!
Aprenda, ancião!
Você tem que assumir o comando!
Freqüente a escola, você que não tem casa!
Adquira conhecimento, você que sente frio!
Você que tem fome, agarre o livro: é uma arma.
Você tem que assumir o comando.
Não se envergonhe de perguntar, camarada!
Não se deixe convencer!
Veja com seus próprios olhos!
O que não sabe por conta própria, não sabe.
Verifique a conta É você que vai pagar.
Ponha o dedo sobre cada item
Pergunte: o que é isso?
Você tem que assumir o comando.

domingo, 6 de dezembro de 2009

O menino que carragava água na peneira

(Manoel de Barros)

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro
botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

"No Iraque o motivo também era pacifista"



Presidente americano afirma que vai enviar mais 30 mil soldados ao Afeganistão nos próximos seis meses


Nova York. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou ontem o envio de mais 30 mil soldados ao Afeganistão nos próximos seis meses, numa aguardada mudança na estratégia de guerra com a qual ele espera derrotar o Taleban e permitir a saída dos Estados Unidos do Afeganistão. Atualmente há aproximadamente 58 mil soldados americanos e 42 mil soldados aliados nesse país.

Após três meses de deliberações vistas por alguns críticos como atraso e indecisão, Obama apresentou seu plano em um discurso para cadetes da Academia Militar dos Estados Unidos em West Point, Nova York. A Casa Branca diz que Obama já deu ordens a seus comandantes para o aumento das tropas.

Antes do discurso, Obama falou por uma hora por videofone com o presidente afegão Hamid Karzai. Washington vem tendo uma relação tensa com Karzai desde que Obama chegou ao poder. A tensão se agravou nos últimos três meses em função da eleição afegã marcada por acusações de fraudes.

O aumento das tropas representa uma aposta importante de Obama. Ele chegou ao poder prometendo um foco maior sobre o Afeganistão, mas vem enfrentando ceticismo de alguns assessores chaves em relação à conveniência de apostar mais vidas e dinheiro para ajudar um governo no Afeganistão amplamente visto como sendo corrupto e inepto.

Em seu discurso, Obama enfatizou que os Estados Unidos não assumiram um "compromisso por tempo indeterminado" no Afeganistão, mas querem entregar o poder a forças afegãs novamente treinadas e começar a retirar suas forças assim que isso for praticável.

Seu desafio é inverter o que os comandantes militares americanos descrevem como situação em deterioração, devido à ressurgência do Taleban. Obama também pretende persuadir Karzai, que deve escolher os integrantes de seu novo gabinete nos próximos dias, a reprimir a corrupção e melhorar a governança, em troca do apoio norte-americano.

Se prevê ainda que Obama enfatize a necessidade de o Paquistão fazer mais para combater militantes que atravessaram a fronteira do Afeganistão. A administração já disse que acertar a política em Islamabad é tão importante quanto em Cabul.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A caixa de schrödinger

O estudante de Física Quântica, provavelmente sinta entusiasmo para ler e tentar entender a caixa de “Schrödinger“.Este imaginário experimento é descrito pelo físico austríaco Erwin Rudolf Josef Alexander Schrödinger (1887-1961):“Um gato é preso em uma caixa hermeticamente fechada, acompanhado de um frasco de gás venenoso e de uma partícula quântica a qual só tem dois estados de energia possíveis: E1 e E2.Se a partícula quântica estiver no estado de energia E1 o frasco de gás pode ser quebrado, mas permanecerá intacto se a partícula estiver no outro estado de energia.

Como estará o gato quando a caixa for aberta: vivo ou morto?“Mesmo com a caixa fechada, a interpretação da física quântica – definida durante um congresso em Copenhagen em 1927 – propõem que a partícula existirá como a superposição de ambos os estados de energia simultaneamente. Essa compreensão possibilita que a partícula tenha certa probabilidade de ser encontrada em algum dos dois estados de energia de tal forma que a soma das probabilidades seja 100%.

Assim, é razoável supor que a partícula tem 50% de probabilidade de ser encontrada em cada um dos estados de energia. Daí, o veneno também deve estar simultaneamente liberado e contido no frasco, e, por sua vez, o gato também deve estar tanto vivo quanto morto, enquanto a caixa permanecer fechada. Por outro lado quando a caixa é aberta, a superposição quântica colapsa – só um dos estados de energia pode ser medido – e, em um só instante, ou o gato está morto ou está vivo.

A finalidade de Schrödinger ao criar esta hipotética e engenhosa experiência visava demostrar que a interpretação da Física Quântica estaria incompleta ao afirmar que as partículas microscópicas existem em um estado de superposição dos dois, ou mais estados de energia quantizada.

Schrödinger, também criou uma equação que representa para a Teoria da Mecânica Quântica o que a segunda lei de Newton equivale para a Mecãnica Clássica.

Fonte: Ciência, Tecnologia e Ensino