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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A fábula dos Morcegos

Tenho usado a literatura para divulgar a construção de uma sociedade anticapitalista. Talvez, Por conta disso, algumas pessoas julguem os poemas que faço depressivos, ou numa consideração mais contundente, poemas com versos fracos, sem cunho literário, e por isso não devem sequer figurar no gênero cujo ato de poemar constitui o mais convidativo. Para estas pessoas que apesar de tudo são meus leitores, dedico sem nenhum tipo de ressentimento, os seguintes versos que eu teimosamente insisto em chamar de poesia.

Ternura sempre,

Razek Seravhat.




I
No cume de uma caverna
habitam dois tipos de morcegos
Os Morcegos por assim dizer
e aqueles
Que se autodenominam
Morcegos Sábios.



II
Todo dia, os Morcegos
Que se dizem Sábios
agradecem maravilhados
pela vida que levam
apesar do ambiente hostil
e dos riscos de
super-desabamento
a que estão submetidos


III
todo este marasmo
e conformação
se justifica, pois,
segundo eles,
Só o fato de estarem vivos
É motivo pra “ser feliz.”


IV
Por isso ficam adormecidos,
orando morcegosamente,
Cientes de que o único poder salvador,
É o do seu Sábio Mestre,
no mais, são mamíferos
e ainda por cima voadores,
e creem que ao saírem da caverna
Enfim poderão desfrutar do que eles
Acreditam ser o cálido
horizonte dos morcegos.


V
Assim,
A vida vai esvaindo-se,
A caverna diluindo-se,
mas a pungente certeza
Dos Sábios Morcegos,
Permanece inabalável.
Apesar das privações,
agruras e
solidão impostas,
a eles e a seus semelhantes,
as suas convicções e
tradições de milênios
continuam Intactas.


VI
Para esses Morcegos,
a infinita sabedoria
consiste
no propósito de que
todos na caverna devem
Conhecer e reconhecer
Com devotada inteligência
a sapiência
do Morcego- Mestre.
Basta isso,
e tudo se converterá
em escuro pleno e
salvação instantânea.

VII
Pois,
segundo o pensar sagrado,
O Supremo-Mestre possui
a dádiva e a graça
da autoridade absoluta.
Aptidão que advém
Lá dos primórdios,
Quando a caverna
Era uma simples gruta.


VIII
Por vezes,
os Sábios Morcegos
não concebem
que a visão dos Morcegos,
propriamente ditos,
Funcione melhor ou igual
do que as deles.
E portanto, os consideram
incultos

IX
Por outro lado,
Os Morcegos que
São considerados incultos
não se abalam com o desprezo
dos seus colegas
E por meio dos sons
que emitem,
seguem transpondo os obstáculos
com habilidade e destreza,
Mesmo sem enxergá-los.

X
Fato que não ocorre
Com os Morcegos Sábios,
pois, preferem ficar
Pateticamente absortos,
Louvando e contemplando
A conturbada caverna,
impedidos de mirar a realidade,
E o que é pior, julgando-se
Os inteligentes e fiéis Morcegadores
da verdadeira ação
Do poderoso Morcego-Mestre.

XI
Nisso enclausuram-se numa razão
De gritos, marchas e zunidos
Que exaltam apenas a ciência
do Divino Morcego Cordato,
E esquecem que a vida
Deve está a serviço de
Uma cotidiana prática coletiva.

XII

Em contrapartida,
Enquanto os sábios
Ocupam-se em propagar
e demonstrar a misericórdia
do seu Morcego Divino.
Na caverna e ao redor dela,
Só o que próspera
É a dor da vingança,
O falecer da amizade,
E a matança de morceguinhos,
Horrores que são explicados
Com frases do tipo:
“ O Divino Morcego sabe o que faz”


XIII
Ao passo que os incultos,
Na sua ínfima condição
De morcegos,
com os seus grunhidos,
ruídos e voos rasantes
Não se contêm
nem se acomodam,
Um instante sequer,
e, prosseguem,
Resistindo,
Enfrentando a luminosidade
e as adversidades
com denodo e altivez.

XIV

Certo dia,
um desses mamíferos voadores
Calculou mal a distância que
O separava de uma barreira
e se despedaçou
Num enorme concreto de tiranias.
Acontecimento que até certo ponto
foi indiferente para os Morcegos Sábios.
Uma vez que aquele Morcego,
Coitado, não professava Saber algum.


XV
E dessa forma não pertencia
ao Reino dos Morcegos Sábios, e,
Portanto, sua vida
já estava condenada
a ser consumida
no eterno
fogo da ignorância.


XVI
Neste dia,
no entanto,
antes do distraído morcego
ver o seu patágio
Derreter-se em sangue,
obteve um ínfimo consolo,
pois,
Sentiu a sensação de surpresa
Na expressão de um dos
Morcegos Sábios.

XVII
Que notou
uma imensa muralha
de tristeza e cal
na qual todas os dias
os Morcegos incultos
Transpassavam-na,
Cuja existência
os Sábios Morcegos
sequer desconfiavam
que pudesse ser
tão imponente.

XVIII
Em virtude desse episódio,
Os Morcegos
Perceberam que além da escuridade
Existe também a diversidade,
E o essencial é viver em comunhão.
Desse dia em diante
começaram a festejar,
Todos os anos
Sempre no mesmo local
O valor da unidade.

XIX

E com o apoio do Morcego
que presenciou todo
O episódio,
E que doravante
ficou conhecido
Como o Morcego das visões
Começaram uma festividade
Para homenagear
o Distraído Morcego,
E finalmente,
Celebrar a fusão e a partilha
entre todos
os seres daquela caverna


XX
Entretanto,
um experiente Morcego
salientou, em nome do
Morcego-Mestre,
Que aquelas peripécias
tão cheias de satisfação,
e cambalhotas,
Poderiam trazer
mais benesses,
folículos e umidade

XXI
Com isso os investimentos
Para realizar as peripécias
aumentaram
E logo,
Os Morcegos-Sábios
Começaram a chamar
Aquela ocasião
De Voar feliz
E a medida,
que o Voar
crescia em dimensão
diminuía em sentido,
Pois a cada ano,
a comunhão era mascarada
E a unidade esquecida,

XXII
Melhor dizendo,
ambas eram substituídas
Por um novo vôo estiloso
ou por um capricho frugívoro,
ou mesmo por desejos fúteis,
o que alterava completamente
o significado daquele
congraçamento.

XXIII
Aos poucos o Feliz Voar
foi se modificando
de tal forma,
que inventaram até
uma árvore enfeitada
de bolinhas escuras
e alguns Morcegos pensam
que ter um Feliz Voar
é pôr ao pé da árvore
uma capa nova para a asa
Ou mesmo encher sua gruta
de pequeninas luzes escuras,
ou ainda capturar
uma rã fresquinha
para a ceia carvenina

XXIV
Assim, o Voar que era
pra ser um gesto
de união e confraternização
transformou-se
numa farsa repleta
de gananciosos morcegos,
e o que antes fora
organizado para lembrar
a fraternidade entre
os seres daquela caverna ,



XXV
Hoje não passa
da banalização oportunista
de um advento que
é regado pela insensatez
de muitos
e pela cretinice de alguns


XXVI

Que inclusive,
Falam em nome
daquele distraído morcego
na busca insana
de morcercializar os frutíferos
cartões de Voar Feliz,


XXVII
Outros, aproveitando a falsa
atmosfera de passividade,
inventam campanhas
em nome dos morcegos carentes
tudo forjado, com a desculpa
da caridade no afã licencioso
de sugar mais e mais,
num período que deveria ser
de partilha realizada
e não de morcegunal canalhada.


XXVIII


Tudo feito com o consentimento,
Do caritativo Mestre,
Chamado por todos
Pasmem!
De “O Morcecioso”

Um comentário:

nova utopia disse...

Meu irmão Rasek

"Eu sou um sonhador
Mas não sou o único
Junte-se a nós".

(John Lenon, Imagine)
*****
Um abraço fraterno

Odécio, o caminhante noturno.
e-mail: mendesrocha2@gmail.com